Diário do Alentejo

“Gostaria imenso de estar enganada, mas a carência de recursos humanos [na área psiquiátrica], na região do Alentejo, continua a ser um problema grava, com todas as consequências que isso implica”

13 de janeiro 2024 - 08:00

Três Perguntas

Ana Matos Pires, Coordenadora Regional da Saúde Mental do Alentejo e Diretora do Serviço Local de Saúde Mental da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba)

 

A propósito da aprovação no Parlamento, por unanimidade, no final de 2023, para a criação de uma linha nacional para a prevenção do suicídio e de comportamentos autolesivos, acessível 24 horas por dia e de forma gratuita, o “Diário do Alentejo” (“DA”) conversou com a coordenadora regional da saúde mental do Baixo Alentejo, Ana Matos Pires, sobre a importância da implementação deste serviço, o tipo de trabalho que é preciso ser feiro para que esta lei possa produzir os resultados desejados na região, bem como, tendo em conta a recomendação de um novo estudo epidemiológico nacional sobre a saúde metal, que conclusões podem vir a ser retiradas relativamente ao Baixo Alentejo.

 

Texto | José Serrano

 

O Parlamento aprovou, por unanimidade, no final de 2023, a criação de uma linha nacional para a prevenção do suicídio e de comportamentos autolesivos, acessível 24 horas por dia e de forma gratuita. Como classifica a importância da implementação deste serviço?A existência de uma linha nacional destinada especificamente à prevenção do suicídio, integrada na Linha SNS 24, é da maior importância e replica o que já acontece noutros países. A estruturação e a formação específica de quem integrará a resposta e a articulação com os serviços de saúde do Serviço Nacional de Saúde nos seus diferentes níveis de resposta parecem-me fatores determinantes para a sua implementação no terreno. Vale sempre a pena recordar que o suicídio é um comportamento, não uma doença, e que as respostas aos pedidos de ajuda terão de ser ajustadas a cada caso. Isto não exclui, antes pelo contrário, reforça, a necessidade de uma estratégia nacional articulada e integrada, com normas de orientação de atuação baseadas na evidência clínica e científica que existe.

Que trabalho considera necessário ser feito agora para que esta lei possa produzir os resultados desejados na região?Sendo uma linha nacional, não haverá nenhuma especificidade regional. De acordo com o referido no documento legal, a sua regulamentação será o próximo passo. Para isso, a Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental tem marcada, para dia 15 deste mês, uma reunião do grupo de trabalho técnico responsável pela formalização da Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio. Tal como previsto na lei, deverão ser também consultadas diferentes estruturas, nomeadamente, ordens profissionais da área da saúde mental, associações científicas e profissionais de referência nesta temática. O documento final será, depois de concluído, enviado à tutela.

O Parlamento aprovou, ainda, um projeto de resolução que recomenda a realização de um novo estudo epidemiológico nacional de saúde mental. O que prevê que este estudo possa vir a salientar relativamente ao Baixo Alentejo?De acordo com o último estudo realizado, há mais de uma década, o Alentejo tem a maior taxa de prevalência de perturbações depressivas, de ansiedade e demenciais. É também esta região a que apresenta as maiores taxas nacionais de suicídio. Assim, as minhas previsões vão no sentido de que esta realidade não se tenha alterado substancialmente. Gostaria imenso de estar enganada, mas a carência de recursos humanos, nesta área da saúde, na região Alentejo, continua a ser um problema grave, com todas as consequências que isso implica, sobretudo, no que diz respeito à promoção da saúde mental e à prevenção da doença. Apesar de tudo, o Baixo Alentejo foi a sub-região do Alentejo que mais evoluiu neste aspeto, comparativamente ao que se passava à data do anterior estudo.

 

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